terça-feira, agosto 31, 2004

Hoje

Hoje vou jantar com um amigo portador de doença de Crohn.
Um amigo bloguista.
Tem a doença de Crohn, que é dele e de mais ninguém.
A doença convive com ele, nem dela se aproveita, nem por ela se deixa vencer.

Hoje vou jantar caril de frango, com o meu amigo que tem doença de Crohn, eu sei, mas muitos dos outros amigos não sabem, nem vão saber.

A piedade não se conquista, não se procura.
O afecto recebe-se sem pedir, o afecto bebe-se, o afecto não se compra.

Eu sei que o meu amigo está solidário com todas as pessoas oprimidas deste mundo.

Hoje fui assediado.
A doente não tinha doença de Crohn.
Tinha outras patologias crónicas.
Enquanto a consultava, tocou-me várias vezes, um toque singelo, ao de leve, sem malícia, mas voluntário.
Ora na mão, ora no braço nú, ora outra vez na mão, ora com a desculpa de uma tontura.
Não a repreendi. Tinha necessidade de afecto. Estava carente.
Estávamos quatro pessoas no consultório.
Só eu tive noção do assédio. Nada fiz. Tive piedade.

A doente tinha 75 anos.

segunda-feira, agosto 30, 2004

"Agora quem não fizer o mesmo que fiz (vir ao seu blog) ficará apavorado se tiver a doença".

Esclarecer, esclarecer, esclarecer.

Um doente esclarecido é ...

"Obrigada pelo rápido esclarecimento.
Tenho doença de Crohn e ao ler este post fiquei pasmada por ter a mesma doença, deixei comentário nesse sentido.

Sempre me foi dito que irei morrer com mas não de Crohn.

Agora quem não fizer o mesmo que fiz (vir ao seu blog) ficará apavorado se tiver a doença
."

As Verdades Têm Que Ser Ditas, Mesmo Que Façam Doer O Coração!

Dois comentários do Médico Explica Medicina a Intelectuais, no blog Púrpura secreta, relacionados com o mau uso da Internet.


"Olá
Sobre o Crohn, não é tão rara como isso.
É uma doença inflamatória do intestino, crónica, com remissões e agravamentos, mas tenho vários amigos, incluindo médicos com essa doença, com mais de 30 anos de evolução e com uma qualidade de vida impecável e invejável".

"Olá, outra vez

Quanto ao outro problema, o da Filomena, que tem uma doença crónica e provavelmente degenerativa do foro neuromuscular, mas da qual não diz o nome, embora pareça estar muito informada, talvez erradamente informada, não será a única com essa doença, mas também não foi a única a fazer asneiras, a desacreditar-se dos médicos portugueses, a pedir empréstimos para tratamentos se calhar "alternativos", dando a ganhar dinheiro desonestamente a interesseiros e fazendo mau uso da Internet e apesar de tudo, não reconhece que errou.

Ao menos esse reconhecimento ficava-lhe bem.

Em também devo dinheiro aos bancos.

Se tem problemas em pagar, deverá recorrer à DECO e tentar renegociar a dívida, mas penso que a deverá pagar, pois foi dinheiro usado por ela e para seu benefício, embora como diz, não tenha tido qualquer proveito.

Já é tempo de se acreditar nos médicos portugueses, a medicina portuguesa é tão boa como as melhores dos países mais avançados."

domingo, agosto 29, 2004

Aguarda-se o Encerramento do jornal Público

Aguarda-se a todo o momento o despacho governamental para o encerramento compulsivo do jornal Público com os mesmos argumentos que levaram à proibição da entrada em Portugal do barco Women On Waves, caluniado pela comunicação social e pelas organizações fundamentalistas religiosas católicas de "Barco do Aborto".

Como é do conhecimento geral o Público publica diariamente uns pequeninos anúncios amarelos divulgando uma clínica espanhola raiana que faz "tratamento voluntário da gravidez" ou interrupção voluntária da gravidez.

Também se espera que o Ministro da Defesa corte relações com Espanha por este país promover acções ilegais em cidadãs portuguesas, que contrariam as leis vigentes em Portugal.

De acordo com o Jornal de Notícias de 29/08/04, Isabel Meireles, jurista especializada em assuntos europeus,

- afirma que "... é violação às regras comunitárias o obstáculo à livre circulação de pessoas que resulta da decisão do Governo português em proibir a entrada do barco em águas nacionais."

- aponta que segundo "... a jurisprudência do Tribunal Europeu de Justiça: um estado só pode proibir a entrada de cidadãos da UE "no caso de ameaça real e suficientemente grave susceptível de afectar o interesse fundamental da sociedade".

- conclui que "Não me parece o caso".

- Interroga se "Será que impedir as pessoas de visitar um barco não será excessiva?"

Segundo o mesmo jornal, José Miguel Júdice,

- questiona que "Será que se deve fechar todas as fronteiras terrestres e marítimas para impedir que uma mulher vá abortar a Espanha?".

- defende que "as medidas têm que ser proporcionais".

- explica que, "se atracar em Portugal é condição essencial para praticar abortos fora do país, trata-se da preparação de um crime."

- E conclui que "compete ao estado impedir a sua prática."

- Alertando, que, "está igualmente a impedir actos legais de debate, excessivamente".

É baseado nesta condição de preparação de crimes contra a vida, praticando abortos, que o Executivo pondera o encerramento do jornal Público e o encerramento de todas as fronteiras com Espanha, de acordo com rumores que circulam nas Sacristias das mais importantes Igrejas portuguesas.

sábado, agosto 28, 2004

Aos Senhores Jornalistas, Vendo

  1. Uma história sobre uma caspa (micose pelo Pytirosporum ovale ou Malassezia furfur) em jovem loira (boazona) de 25 anos. Liberal na relação com jornalistas.
  2. Uma história de manchas na pele (pitiríase versicolor) em jovem, 23 anos, bom corpo, boa figura. Tem uma história de 6 meses, com muitas consultas. Numa foi violado por um médico homossexual.
  3. Várias histórias de pé de atleta (tinea pedis) em vários atletas olímpicos. Uma das histórias, com preço a combinar, é a do contágio entre uma atleta e um médico particular, com a transformação da micose dos dedos dos pés em candidíase oral. A atleta está disposta a denunciar os vários chupões que o médico lhe fez no dedo grande do pé, enquanto a examinava.
  4. Uma história de um hidrocelo numa mulher (hidrocelo de Nuck) jovem, lésbica, morena. Tem como condição tirar uma foto em biquini com a sua companheira.
  5. Uma história de uma unha encravada (onicocriptose) infectada. Só para televisões. Boa imagem de uma unha fedorenta e podre devido às infeções e negligência médica. Oferece-se o almoço na residência do doente.
  6. Dezenas de histórias com várias vítimas de hemorróidas (prolapsos das veias que constituem o complexo hemorroidário). São possíveis várias combinações: vítimas masculinas, femininas, de várias idades, homo, bi ou heterossexuais, hemorróidas isoladas ou acompanhadas com prurido anal, fissura anal, cirurgia em directo do ânus, com ou sem rectorragias, hemorroidas trombosadas ou simplesmente mariscas anais. Também se vendem aos pacotes.
  7. Abcesso peri-anal. Possibilidade de transmissão em directo de um banco de um hospital público a uma drenagem. Os preços variam consoante os intervenientes. Desde chefe de serviço (mais barato) até a uma drenagem ilegítima feita por uma auxiliar disfarçada de médico (mais cara).
  8. Também vendo perguntas para consultórios on-line ou publicações impressas, do género: "Há vários anos que sofro de hemorróidas. Tenho 56 anos e tenho algum receio da operação. ...". Várias combinações. Para a Lux faz-se um preço especial.
  9. Várias histórias de flatulência (formação excessiva de gases digestivos, cerca de 17 ml/h, emitidos pelo ânus, o que origina entre 400 a 1400 ml/dia) com exclusividade sonora para as rádios com bufas, flatos (do latim: flatu), ventosidades ou peidos em directo. Grande exclusivo de um peido em directo na cara do médico e seu internamento por dificuldades respiratórias.

Abatamos Os Heróis! Elegia Às Vítimas!

"Se as vítimas provocam tanta emoção é porque a sociedade está ansiosa por encontrar vítimas."


Só assim se comprende que uma simples úlcera da córnea já dê direito a reportagem nos jornais com foto de corpo inteiro.

Condições: ser jovem, feminina, dizer mal dos médicos, dizer mal do Serviço Nacional de Saúde, fazer a elegia de uma clínica privada. Mesmo que se digam as maiores enormidades, quer a utente, quer o senhor jornalista.


Ou que um doente hipertenso e diabético(quantos milhares haverá neste país!) tenha honras de uma reportagem televisiva no prime time

(Oh Meu Deus! Protejei-me dos media!")


e onde se afirma que o Estado, bla bla bla bla bla.

Se a reportegem procurasse elucidar os 75% de hipertensos e diabéticos que não se tratam ou que desconhecem a sua doença, que vivem permanentemente no fio da navalha, apoiaria...

Mas também houve bom Fio do Horizonte, em 27 de Agosto, no Público.

Reproduzo algumas passagens da crónica do Eduardo Prado Coelho.

"O acontecimento teve uma enor­me repercussão. Uma mulher jovem, judia, transportando no metro parisiense o seu bebé, é vítima de um atentado, mais concretamente de ­uma violação colectiva, por um grupo de negros e muçulmanos, perante a indiferença de outros passageiros que se encontravam no outro extremo da carruagem. Tendo tido a coragem de denunciar este crime anti-semita, a mulher, que os “media” designaram como Marie L, foi considerada um caso exemplar da violência racista crescente em França. O próprio presidente Chirac se emocionou e defendeu que se criassem medidas para evitar esta vaga inquietante. Pouco tempo depois veio a descobrir-se que todo o de­poimento era completamente falso. Marie L. inventara tudo."

.../...

"Mas ela apostou sobretudo na repercussão mediática do que ia ficcionalmente cons­truindo: ela tornou-se verdadeiramente heroína da sociedade"

.../...

"Por outras palavras, vivemos numa situação em que as vítimas se transformam em heróis mediáticos. Se isto sucede, é porque não é hoje fácil ser herói. A forma de ser herói tem a ver com o crescimento do individualismo, que deixa o indivíduo entregue à sua própria solidão. Como declara Lucien Karpik, o próprio processo judicial se alterou. Anteriormen­te, julgava-se em nome do interesse geral. "Agora passou-se a um processo organi­zado como uma espécie de terapêutica da vítima. Com a ideia implícita de que esta é a única maneira de apagar o trauma. Hoje tudo está preparado para que a vítima se transforme no centro do processo. Assiste-se assim a um privatização da justiça que, sem que haja debate, se põe ao serviço de uma causa privada."
"Se o leitor vir com atenção um telejornal, verifica que se trata de encontrar vítimas da sociedade e que essas vítimas pretendem designar um nome que represente o rosto da culpa."

.../...

"Quando podemos dizer que a culpa é de X ou de Y, podemos dormir descansados. A sociedade contemporânea ama a compaixão. E as vítimas encontram no processo que as vitimiza o momento de glória que procuram ao longo de uma vida sem grandeza".

sexta-feira, agosto 27, 2004

segunda-feira, agosto 23, 2004

Esclarecendo Uma Dúvida...

A Púrpura secreta solicita um esclarecimento sobre as diferenças que possam existir entre médico de clínica geral e internista.

Esclarecimento oportuno, pois os dislates que os nossos queridos jornalistas "pespegam" nos jornais, com o beneplácito das redacções, é exasperante...

Ainda muito recentemente a jornalista Fernanda Câncio do Diário de Notícias, nos seus artigos sobre a hepatite C, acompanhada por alguns médicos pertencentes um novo lobie, "o lobie da hepatite C", confunde as terminologias entre médico de clínica geral, médico assistente e médico de família.

(Entre parêntesis: o que faz correr assim de repente tanta gente atrás da hepatite C? Será mesmo filantropismo? Será jornalismo de investigação? Serão notícias "encomendadas" por laboratórios? Serão os jornalistas ingénuos? E que laboratórios? Os de análises clínicas, que querem mais análises convencionadas? E mais generalizadas? Massificadas? Mesmo sem necessidade! Ou os laboratórios de medicamentos? De medicamentos de uso hospitalar? Do interferon? Tudo muito confuso.....)
  • licenciado em Medicina: todo o estudante que concluiu o curso de Medicina, sem qualquer período formativo pós- graduado e que não pode exercer Medicina.
  • médico indiferenciado: todo o médico licenciado em Medicina, com um período formativo de pós- graduado que lhe permite exercer Medicina não tutelada.
  • médico especialista: médico de qualquer Disciplina que fez um período de formação pós-graduada.
  • médico de clínica geral: médico que exerce clínica geral. Qualquer médico pode exercer clínica geral, desde médicos indiferenciados a médicos especialistas. Desde recém-licenciados a médicos reformados. É frequente médicos de especialidades não clínicas, exercerem clínica geral para ganharem mais uns cobres: virologistas, anátomo-patologistas, bacteriologistas, radiologistas, patologistas clínicos, médicos legistas, etc. Em geral fazem má clínica geral, exceptuando aqueles que a fazem de modo continuado e já há muito tempo, pois a clínica geral é uma actividade essencialmente prática e de ambulatório, em oposição à medicina hospitalar.
  • médico assistente: qualquer médico que assiste um determinado paciente, uma única vez ou por períodos prolongados, quer a nível ambulatório, quer a nível hospitalar.
  • médico de família: médico especialista com um período de formação específica em medicina familiar, cujas principais características serão, exercer a sua actividade no ambulatório, extra-hospitalar, isto é, na comunidade, próximo do paciente, utilizar nas suas consultas uma abordagem bio-psico-social da pessoa doente e seguir continuadamente famílias agrupadas em listas e cada elemento em particular, desde o nascimento até à morte. Previne, trata, referencia, reabilita, acompanha até ao fim da vida.
  • médico internista: médico especialista com um período de formação específica em medicina interna, cujas principais características serão, exercer a sua actividade intra-hospitalar, utilizando uma abordagem clínica por sistemas, aparelhos e órgãos e cuja actividade se distribui fundamentalmente pelos aparelhos cardiovascular, pulmonar, endócrino, digestivo, pelas doenças do tecido conjuntivo, infecciosas e todas as suas interrelações.

domingo, agosto 22, 2004

Os Mitos

A revista Lux é conhecida pelos mitos que fabrica e que vai alimentando de acordo com as conveniências do mercado social.

Mas numa crónica sobre saúde (cefaleias em crianças) alguns outros mitos são denunciados.

Pode ler-se:

O balanço entre a investigação excessiva, cara e até nociva, e a atitude demasiado despreocupada que pode atrasar o diagnóstico de doença grave não é fácil de estabelecer.”

Além do mais, o problema das dores de cabeça em crianças encontra-se rodeado de mitos.

O mito "mais comum é o de que problemas de visão são causa frequente de cefaleias. É falso. Excepcionalmente, crianças com estrabismo discreto poderão, ao fim de algumas horas de leitura, queixar­-se de dor ocular, mas na sua enorme maio­ria, na quase totalidade das crianças com dores de cabeça, essa não é a explicação.”

"Outro mito envolve a inflamação dos seios perinasais. É verdade, a sinusite não é, de todo, causa frequente de dores de cabeça!
Quando tal acontece, a dor é muito localizada e há sinais de infecção."

"Quantas crianças com cefaleias crónicas passam primeiro pelo oftalmologista, e depois pelo "otorrino", antes de irem ao neurologista."

"Também é frequente observar crianças com cefaleias que fizeram um electroencefalograma, vulgo EEG. É quase o mesmo que pedir um exa­me ao coração a quem se queixa de dores de ouvidos.
"O que fazer então?"
"Em primeiro lugar, tem de se estabelecer o diagnóstico, o que é feito quase sempre pela "história", isto é, pela informação detalhada fornecida pela criança e pela família. A recolha cuidadosa desses dados vale muito mais do que o exame físico, análises e radiografias.

"Felizmente, a maioria das crianças com cefaleias crónicas sofre de enxaqueca, que pode surgir em qualquer idade, até em bebés de colo. A dificuldade em encarar a luz, a sensação de náusea, e outros familiares com as mesmas queixas, são marcas desta "doença, incómoda mas benigna."

"Quais são então os sinais de alarme?

  • Temos especial atenção para as que despertam a criança do sono ,
  • são particularmente intensas ao acordar,
  • aliviadas pelo vómito,
  • que se localizam à nuca
  • ou que são sempre no mesmo lado.
  • se as queixas aumentam progressivamente de intensidade ou frequência."

"Isto só se consegue se o médico tiver disponibilidade e tempo para ouvir com atenção, não só a queixa que motiva a consulta, mas também todos os factores sociais, familiares e emocionais que rodeiam a criança."


sábado, agosto 21, 2004

Um Comentário Posto A Uma Posta Da "Mãe Adolescente"

"Fico satisfeito pela mãe adolescente seguir os "bons conselhos", sempre subjectivos, é verdade, dados desinteressadamente. Mas se a "mãe adolescente" é mesmo real, e eu inclino-me para acreditar que sim, tem qualidades que não podem ser desaproveitadas, e não só na escrita, mas também na personalidade, na capacidade de iniciativa, na solidariedade, na avaliação da sociedade que a rodeia.
Médico Explica"

E acrescento agora:
qualidades presentemente tão raras, não só na adolescência, mas também, na idade adulta.

Em geral, na sociedade em que vivemos.

quinta-feira, agosto 19, 2004

Arritmologia de Intervenção

Sabe o que é?

É uma sub-especialidade.

Sabe de que especialidade?

Eu, Chávez E Os Dentes.

Hoje, quinta-feira, fui ao dentista.

Confesso que ... com medo.
O velho fantasma imaginário das brocas, das agulhas e das fortes e intensas dores.

Paguei.
E vim com um orçamento para uma futura transformação das faltas em implantes dentários.

Cada implante rondará os 200 contos. Como preciso de vários, o melhor é pedir um empréstimo bancário para que a resolução do meu problema dentário não desiquilibre o orçamento doméstico e o profissional.

E isto porque os implantes presentemente serão a melhor alternativa para a minha boca e a de milhões de portugueses. Mas eu terei crédito no banco, os outros talvez não...

E lembrei-me do Chávez. Aquele populista que inverteu as expectativas e ganhou o referendo.
Falou-se das suas políticas sociais.

Enquanto guardava o orçamento lembrei-me de alguns programas sociais que li:

- um médico em cada bairro.
- tratar os dentes a todos os venezuelanos.
- fornecer um par de óculos a quem necessitasse.

Não digo mais nada....

quarta-feira, agosto 18, 2004

"Esteja por isso o povo tranquilo, eles, em geral, até sabem o que fazem".

From: Alfredo
To: medicoexplicamedicina@iol.pt
Sent: Wednesday, August 18, 2004 2:00 AM
Subject: A propósito das sub-especialidades


O engano supremo, para o qual este blog, mais uma vez, alerta os leigos.

Médico explica Medicina a intelectuais .../... é serviço público, à falta de outra alternativa a quem quer saber um pouco mais sobre o estranho mundo da Medicina em Portugal.

Sobre as sub-especialidades, uma mensagem, para quem quiser ser bem tratado e não se arriscar a por em causa a sua própria saúde, paradoxalmente, ao mesmo tempo que julga estar a ser muito consciencioso: nada sabem sobre qual a sub-especialidade que precisam. Nunca. Ou só por mero acaso acertam.

A triagem, e a referenciação, deve estar sempre a cargo de uma especialidade generalista: Medicina Interna, Medicina Geral e Familiar, Pediatria ou Cirurgia Geral.

A propósito disso posso referir um filme interessante: a 3ª parte do "Querido Diário" de Nanni Moretti, na qual ele conta um caso pessoal de doença. Teve comichão e, conclusão básica de leigo: "devo ir ao Dermatologista", pensava ele. Pois se a comichão é na pele e o "especialista da pele" é o Dermatologista. Nada mais errado, como ele veio a concluir da pior maneira: muito dinheiro gasto em muitos "especialistas da pele" de renome; muito sofrimento e transtorno pela persistência e agravamento dos sintomas; muita frustração pela não resolução do problema. Afinal tinha um cancro do sistema linfático (linfoma de Hodgkin), que ainda foi a tempo de ser curado.

Conclusão do autor: os médicos não percebem nada de doenças e só prescrevem porcarias múltiplas que não ajudam a melhoras. Ou seja, ainda não se deu conta da patetice da sua atitude.

Conclusão real de quem sabe/mensagem ao público: o "especialista", ou sub-especialista (porque especialistas são todos), geralmente pouco ou nada percebe fora da sua sub-especialidade. Por isso é bom que, quando a ele se dirigem, tenham a certeza que a doença diz respeito à sub-especialidade em causa. Sob pena de perderem tempo, dinheiro, e continuarem doentes.

E quem sabe são os médicos das especialidades generalistas, que estudaram para isso mesmo:

- Medicina geral e familiar: 6 anos de curso + 2 anos de internato geral + 3 anos de especialização;

- Medicina interna: 6 anos de curso + 2 anos de internato geral + 5 anos de especialização;

- Pediatria: 6 anos de curso + 2 anos de internato geral + 5 anos de especialização;

- Cirurgia geral: 6 anos de curso + 2 anos de internato geral + 6 anos de especialização.

Esteja por isso o povo tranquilo, eles, em geral, até sabem o que fazem
.

terça-feira, agosto 17, 2004

"A mãe da arte de Hipócrates"

O bisturi diz que:

"Relativamente ao tema do internato médico, lamento que o antigo e o recém aprovado [Decreto-lei] consagrem tão pouco tempo à medicina geral e familiar, a mãe da arte de Hipócrates, ou porventura pretenderão formar especialistas em fractura craniana por queda, sem conhecimento, ao menos rudimentar, do diagnóstico diferencial de síncope?"

Concordo. A Medicina como ciência tem centenas de anos e sempre foi generalista. Apenas em meados do século XX começou a verdadeira especialização e este século será o século das sub-especialidades ou super-especialidades.

Quanto mais super especializada for a Medicina, maior importância terão as especialidades generalistas: medicina geral e familiar, medicina interna e pediatria.

"O Escândalo da Casa Pia!" - Benefício da Dúvida

O Escândalo da Casa Pia! é um novo blogue. Esperemos que não seja um novo escândalo!

Dou o benefício da dúvida razoável.

é um "Blog dirigido por antigos alunos da Casa Pia e destinado a esclarecer quanto aos verdadeiros escândalos dessa instituição durante os anos que lá passámos. Mais do que a mitificação da instituição como "instituição de bem" e para o bem público, registaremos e analisaremos aqui os seus contornos mais sinistros para que fique claro o que pensamos sobre a dita."

"Sex, sun, sea, and STIs: sexually transmitted infections acquired on holiday"

Serviço Público: usem preservativo!

"Sex, sun, sea, and STIs: sexually transmitted infections acquired on holiday"

"The Dane in Spain was mainly on the Dane." These words were spoken by the late Dr Robbie Morton, drawing on three decades’ experience in venereology, about the sexual behaviour of holidaymakers and their risk of acquiring sexually transmitted infections (STIs) while abroad. Despite Morton’s years of clinical expertise his opinion would not survive the rigours of evidence based guidelines and at best would be graded as level 4, if at all. So is his assumption that sexual encounters while on holiday tend to be between people of the same nationality correct? What are the implications of international mixing on the risk of acquiring sexually transmitted infections? How should we manage people at risk before and after their holiday?

BMJ 2004;329:214–7 (British Medical Journal)

domingo, agosto 15, 2004

Frases Esparsas, Sentidas Com Interrogações

" .../...
Isto tudo para sugerir um post sobre este assunto [internatos médicos], não só para satisfazer a minha curiosidade como também para divulgar a questão a todos os que acompanham o seu blog.
A minha pouca experiência clínica "pede" por mais uns anos de formação geral que o actual sistema de ensino (nomeadamente o ainda pouco profissionalizante 6º ano) não oferece, mas à minha pressa de ser médico agrada-lhe os dois anos a menos de estudo.

E no centro deste dilema está a minha principal dúvida: Será que um médico especialista tem de ser conhecedor de áreas da medicina que provavelmente não lhe serão úteis no seu dia-a-dia, gastando tempo e neurónios em assuntos que lhe são apresentados na sua forma mais básica e abreviada, muitas vezes nem chegando a servir de experiência clínica útil? Ou esta é uma ideia completamente (ou relativamente) errada
?

(E. B. C.)

Frases Esparsas, Sentidas Com Lazer

".../...
(...) em relação às noites dos estudantes de Medicina, infelizmente, devido às rivalidades entreprofessores da Faculdade que querem que a sua disciplina seja a mais "respeitada", temos a vida bem "lixada" e pouco tempo para noites...
No entanto, há sempre festas da Faculdade e nessas também se vai directo para a Faculdade. E há sempre o Bairro Alto, quando não se podem perder muitas horas de sono. E agora, pelo menos em Santa Maria, há as Olimpíadas da Medicina, que é o "must" da diversão... E depois os ENEMs, os EMELs, etc..."

(L.)

"(...) A foto com a carioca "pintada de branco" não é protector solar - "apenas" àgua oxigenada cremosa misturada com descolorante, para lhes pôr os pelos loiros, mania de qualquer mulher brasileira...rs"

(M.S.)

Frases Esparsas, Sentidas Com Denúncia

" .../...
(...) em relação a Sousa Franco, diz o que toda a gente pensou mas ninguém teve coragem de dizer: que a arruaça e a falta de civilização daquela gente podem ter influído na morte de Sousa Franco. Involuntariamente, mas influíram."

(M.)

".../...
(...) Hoje em dia, infelizmente e por causa dessa promiscuidade, não podemos pretender que o comum mortal acredite que somos sérios. Pois não o parecemos.
Mas basta ver o exemplo execrável que vem de cima numa manchete de hoje...."

(A. V.)

Frases Esparsas, Sentidas Com Elogios

".../...
Em toda esta cadeia trágica, a única competência [do apoio psicológico] pertence aos bombeiros durantes os desencarceramentos."

(G.)

"Com ele [o blogue] , abre uma brecha no muro feito de tantos silêncios e ruídos de relação e comunicação que, na maioria dos casos, separa os médicos dos seus pacientes. (...)"

(F.)

Frases Esparsas, Sentidas Com Paixão

"Olá, cai em seu blog hoje, e confesso que estou confusa....vc é do Brasil???
preciso de uma ajuda...kkk
estou apaixonada por um médico...:' .... ele é recem formado .... será que tenho chances, ou agora ele tem outras coisas pra pensar... kkkk acho que na verdade o melhor profissional pra me ajudar seria um psicologo né? só sei disser que estou neurótica pelo médico.... não sei se pelo rapaz ... entende?
me mande seu msn caso tenha... adoria bater papo contigo.
"

(R.)

Frases Esparsas, Sentidas Com Crítica

" .(...) Quanto ao seu post, lamento alguns detalhes: aceitar ir a uma viagem, ainda que à tal fábrica de genéricos. Referir aceitar receitar umas caixitas a bem do DIM. Não é bonito e discordo. Mas tem o condão de mostrar como essas coisas se passam. São as viagens da treta aos congressos/apresentações da treta; são os passeios de burro pela serra; são as aulas de condução de risco; são os jantarinhos e almocinhos; são as coisas ainda mais graves, os casos de polícia. A minha filosofia na matéria é: um laboratório não financia nada sem a perspectiva de ter retorno; o médico deve-se cingir, na prescição, ao bem exclusivo do seu paciente (...).

" (...) Claro que é chato não ir a esses restaurantes com preços impossíveis, não fazer essas viagens, etc.... (...)

(A. V.)

" .../...
Mas continuo a achar que há muito para fazer e para pensar quanto à comunicação directa dos médicos e das várias instâncias e instituições a que estão ligados ou os representam e os utentes-pacientes."

(F. M.)

" .../...
Em todos os momentos do já longo, e complexo, historial clínico do familiar a que me refiro, os passos seguintes foram sempre bem explicados, pormenorizadamente em alguns casos. Até que, chegados à fase dos cuidados paliativos, o silêncio se instalou de repente.
Enquanto familiar, não quero contactar os médicos fora da presença do doente (...)"

(F. M.)

"Uma questão:
"Quantas vítimas serão "necessárias" num acidente para poderem receber apoio?
E as familias?"

(I.)

".../...
(...) Compreendo que o tenha dirigido [o blogue] sobretudo aos jornalistas, mediadores dessa relação [médico-doente] e, em muitos casos, geradores de ainda mais ruído."

(F.)

Frases Esparsas, Sentidas Com Dor

".../...
Foi no IPO-Porto e na altura, eu via-a com falta de ar e a revirar os olhos e perguntei ao médico o que estava a acontecer, (é evidente que eu sabia que ela estava a morrer, mas queria saber o que se estava a passar) o médico respondeu com um certo ar de desprezo e falta de paciência :
- as pessoas morrem assim!
Eu dei a mão à minha mãe o tempo todo , cerca de meia hora de estertor, e fiquei com aquela dúvida, que se calhar só vou ver respondida quando chegar a minha vez..."


(M.)


(Sobre um caso familiar.)
".../...
De que forma um doente oncológico seguido num hospital público é acompanhado depois de se terem esgotado todas as hipóteses de intervenção cirúrgica e de se ter entrado já no último ciclo de quimioterapia paliativa?
Que papel têm os médicos oncologistas a partir desse momento?
É a unidade da dor (existente no hospital em questão) que passa a acompanhar o doente com maior proximidade?
E quando se agrava o quadro clínico, o doente é internado?
É nesse momento que o definem como doente terminal?
O que pode ele esperar de acompanhamento por parte do hospital enquanto doente terminal?"

"Sei que as minhas dúvidas provêem da enorme dificuldade de os médicos e os pacientes envolvidos em situações como esta enfrentarem e partilharem a aproximação da morte."

"(...) E vejo o tempo a passar, tempo precioso para que o doente se prepare, como melhor entender - mesmo que, já esclarecido, preparar-se, para ele, seja não se preparar! - e na posse de todos os dados, para o que se segue."

(F.)

".../...
O apoio psicológico às vítimas é completamente inexistente.
Recordo obsessivamente os dois sacos verdes de plástico com a roupa dos meus pais e as alianças deles embrulhadas em algodão e os anéis da minha mãe completamente desfeitos.
As instituições deviam ter particular atenção a estes traumas irreversíveis.

Em Inglaterra e em França já existem estas equipas."

(A.)



sábado, agosto 14, 2004

A Traição Do Laboratório Genérico!

Hoje foi um dia irrepetível.
Um dia em que, se o trabalho não fosse estar 12 horas de banco, "metia baixa".

Entrar de plantão logo de manhã com uma forte odontalgia (dor de dentes), uma polpite que se avizinha e só pensar na dor, transtorna-me.
Não me posso transformar em doente. Não posso mostrar um fácies de doente, carente de afecto e compreensão. Eu estou ali para tratar dos outros. Não posso inverter as posições.

Os doentes vão aparecendo.

A meio da manhã instala-se uma cefaleia tipo enxaqueca. Nunca antes tal tinha sentido: dor pulsátil, unilateral, ligeira fotofobia. Dia ruim.

Almoço.

Duas horas depois começo a sentir uma epigastralgia (dor de estômago). Esta é habitual. Estou há 3 anos à espera de tempo para repetir a esofagogastroduodenoscopia! (endoscopia digestiva alta).

Os doentes vão desfilando. Os casos vão sendo resolvidos.

Só as minhas queixas é que não: odontalgia, cefaleia e epigastralgia. Mas com a dor de estômago é que não posso. Ainda para mais fico com medo e não tomo qualquer analgésico. Vou à procura de um PPI ou IBP qualquer.

Tanto delegado de informação médica que por aqui vai passando, que alguma amostra de um omeprazol ou outro prazol qualquer deverá estar por aqui esquecida.

Procuro, procuro e não encontro.

Lá está! Em cima de um armário jaz uma embalagem de Omeprazol ITF, cheia de pó. É isso. É um omeprazol genérico. Guardo no bolso da bata e respiro de alívio. Pelo menos a epigastralgia dentro de uma hora poderá estar aliviada.

Continuo a consultar. Mentalmente vou procurando água.
Já sei. Há um colega que trás sempre uma garrafa.
Com a garrafa na mão, uma dor na cabeça, uma no estômago e outra na boca, preparo-me para abrir a embalagem e alcançar o desejado comprimido.

Aberta a embalagem, que vejo eu: rebuçados. O laboratório substituiu os comprimidos por rebuçados, para adoçar a boca aos médicos.
Por isso a embalagem estava abandonada no armário, cheia de pó!

Desiludido, olho para o relógio: são 20 horas. Vou-me embora. Levo comigo o dever cumprido e as três dores que me acompanharam silenciosas nestas doze horas.

São 23 horas. Chego a casa. Vou às últimas do Público. Já tomei o meu omeprazol. Espero que o efeito se inicie rapidamente. Que leio? Não. Não pode ser. Mais sete jovens que morrem numa estrada. Entre 15 e 25 anos. Não há paz na estrada!

Não aguento mais. Vou dormir. Só assim as dores se afastarão de mim.
Amanhã não vou trabalhar.

TGIF

TGIF não é uma sigla, nem um acrónimo da medicina.

A Gazela do Deserto explica.

sexta-feira, agosto 13, 2004

Imagens-Choque: Cuidados Paliativos Serão Necessários?

"Sou mãe adolescente": Aconselho A Sua Leitura

Aconselho a leitura (a superficial e a profunda) deste novel blogue:

Pela qualidade da escrita inocente,
pela qualidade da adolescência não vivida,
pela rara qualidade da vontade de escrever na adolescência.
Pela vontade introspectiva.

Começa asim:

"Cheguei
Tenho muita necessidade de partilhar com alguém a minha experiência. Além disso, fui forçada a abandonar a escola e resta-me este meio para continuar a exercitar a escrita. Desejem-me boa sorte!
"

e confessa, aquilo que deve ser um alerta para todos os pais e mães:

"o facto de não termos sido amados pelos pais na altura da vida em que mais precisávamos, a amargura de termos tido que estancar durante anos as lágrimas que quisemos libertas no colo de alguém"

Eu desejo!

E desejo que ame tanto o seu filho, como ama o pai, que não a amou ou não soube amar.

quinta-feira, agosto 12, 2004

"É de fugir a sete pés." Concordo. Mas Não Do 2001!

O AIFAI (quem lê o Aviz está permanentemente actualizado!) no bilhete "Top para começar mal o dia, revisto e aumentado" diz-nos:

"- "Still The Same" - Bob Seeger - Por acaso também é o autor do tema precedente. E pensar que, nos idos de 70, este tema passava na discoteca "2001", no Estoril."

A discoteca 2001 faz parte do imaginário de muitos estudantes de medicina e não só.

Quantas, quantas, quantas e quantas vezes se ia directo da faculdade para o 2001 e vice-versa.

Bela vida a de estudante universitário.

Será que ainda existe com a mesma simbologia?

quarta-feira, agosto 11, 2004

O Público Confirma O Blogue

A blogosfera antecipou-se aos media.

Não há cuidados paliativos em Portugal. Ou o que há é pouco, segundo o jornal Público.

Bons artigos sobre um relatório da OMS. Bom serviço público do Público e da jornalista Isabel Leiria.

Falta de Cuidados Paliativos Causa "Sofrimento Desnecessário" a Doentes Terminais.

Muitos Gostariam de Morrer em Casa.

Três Perguntas a António Lourenço Marques: "Em Portugal estamos atrasados 20 anos"

(ligações não permanentes)

Futuros Médicos: O Que Pensam Do Cancro E Dos Cuidados Paliativos ?

"Caro Médico que explica (caro futuro colega)
Tenho lido o seu blog nos últimos dias (como sempre), tendo assistido não só à "rixa" (hesitei em usar esta palavra mas faltou melhor) como à transcrição dos e-mails que lhe têm enviado...

Não quero de modo algum desvalorizar a dor que é a perda de familiares próximos (ou não) ou amigos, .../... de modo a que tenho todo o respeito por quem por isso passou porque infelizmente sei que chegará a minha vez. Sei muito bem que as pessoas não duram para sempre, só não tive a infelicidade de ser atingido por uma dor dessas...
Creio eu, e segundo conversas com professores da Faculdade e médicos amigos, que há meses inquiri sobre este assunto, há anos não se morria de cancro. Se bem que o médico soubesse que de tal se tratava, a família ficava a saber que era "morte natural"... Tudo bem até aqui... Morrer de velhice, morrer de morte natural, era assim que se morria. Fazia sentido em pessoas de certa idade.
No entanto, tudo muda de figura, quando se tem contacto com crianças vítimas cancro. Muitas delas até sobrevivem, outras não têm a mesma sorte... E é verdade que custa ver idosos à beira da morte (vejo-o bastantes vezes, infelizmente). Mas custa muito mais ver crianças nessa situação.
Por uma vez tive oportunidade de visitar o piso 7 do IPOFG, o Serviço de Pediatria. As palavras não fazem justiça às imagens que guardo. A tristeza, a desolação de crianças, pais, amigos...


E haverá apoio governamental extraordinário para esta situação? Ou apenas as ONGs, as IPSSs?
É de lembrar que algumas destas crianças serão os professores de amanhã, os médicos de amanhã, quem sabe, os políticos de amanhã...
Talvez saiba responder a esta pergunta: o que se faz por estas crianças?"

Lixinha (?) do blogue 100Norte.

Não sei, não! Não lhe sei dar uma resposta! Ou melhor, até sei, mas não quero dar.

terça-feira, agosto 10, 2004

Imagens Choque: A Opinião De Uma Socióloga.

"Olá.
Boa noite.
... de facto eram imagens muito fortes e que fiquei impressionada.
No entanto não estou em desacordo com a publicação desse tipo de imagens se fôr para sensibilizar, para fazer com que uma pessoa pare e pense.
De facto a publicação de imagens choque é cada vez mais utilizado nas acções de sensibilização.

Em 2002, o governo brasileiro decidiu colocar imagens chocantes nos maços de tabaco. Estas imagens mostram as consequências mais comuns do tabagismo, como mau hálito, impotência sexual, doenças cardíacas, complicações na gravidez e cancro do pulmão. A foto do bébé numa unidade de neonatologia é sem dúvida a mais chocante.
A imagem é acompanhada da frase: “Ministério da Saúde adverte: Em gestantes, o cigarro provoca partos prematuros, o nascimento de crianças com peso abaixo do normal e facilidade de contrair asma”.

Países como a Austrália e a Islândia já pediram autorização ao governo brasileiro para utilizar a foto do bébé prematuro.
Um estudo feito pelo instituto de pesquisas britânico Cancer Research UK concluiu que as imagens chocantes nos maços de cigarro são a maneira mais eficaz de convencer um fumador a largar o vício.

Outros exemplos existem (como é o caso da morte de animais para vestuário de luxo) e provaram dar resultado.

A falsa ideia de que não é preciso mostrar porque todos sabemos o que isso é ... não passa do que o próprio nome indica Falsa Ideia.E é esta a minha opinião!

CGFL"

segunda-feira, agosto 09, 2004

Olá!

"Olá", disse T do blogue dias que voam.

"O amigo ABS chamou a atenção para a polémica sobre um assunto me toca pessoalmente, por o ter vivido.
Quando li o seu texto que descreve como explica a filha à doença do pai, comparo a sua atitude com o médico da minha mãe, que me dava a notícia enquanto ela se vestia, depois de ele ver a a e a examinar. Nunca algo me custou tanto, fingir que não tinha importância uma nova operação ou tratamento. Sorrir e afagar a minha mãe e evitar os medos e fantasmas. Falamos de cancro, no caso. Não tenho vocação dramática, e ainda hoje sonho com aqueles momentos. Pesadelos, mais concretamente.
Mas não me queria alongar muito nesse aspecto pessoal.
Há o aspecto desumanizado da morte. O doente ligado às máquinas, a morrer devagarinho, isolado, sem a família ao lado porque só pode entrar uma pessoa de cada vez e cinco minutos para se despedir.
Exerci esses cinco minutos com imensa revolta, queria que a minha mãe morresse de mão dada comigo e rodeada pela família.
Assim não aconteceu. Mandaram-nos para casa e aguardar o telefonema.
Há coisas que de facto não compreendo. Temos que saber ajudar a morrer. Rodear de afecto a pessoa que se vai embora.
E conservar-lhe até ao fim a dignidade humana.
Era só isso. Gostei de o ler apesar de ser um assunto de que me custa falar ou polemizar acerca.
Por isso lhe escrevi a carta . Obrigada por ter a pachorra de a ler. Às vezes é mais fácil escrever as dores interiores do que verbalizá-las.
T"

domingo, agosto 08, 2004

Estou De Férias, Espero Não Voltar Assim!

IMAGENS FORTES COM UM OBJECTIVO: Paz na Estrada!









Cuidado Com O Sol De Agosto!



Fundamentalismos em toda a parte. Este foi em Copacabana.

"E a humanidade dobrou o jornal aliviada".

Do blogue SULPARATI, com a devida vénia à sua autora, MariaMar, lembrei-me de transcrever este seu post sobre um "post" do Miguel Torga, no seu Diário.

E lembrei-me porquê?
A minha filha hoje "faz anos", se tivéssemos vivido em Hiroshima, não teria tido tempo para os fazer.


"Caldelas, 8 de Agosto - Em Hiroxima, onde a bomba atómica foi lançada, tudo quanto era vida morreu. Por causa do fumo e da poeira que se levantaram, o mundo esteve de respiração suspensa durante vinte e quatro horas, sem saber o que tinha acontecido. Mas hoje, de manhã, os jornais, diligentes, já estavam senhores da verdade inteira. Não tinham morrido vinte, trinta ou quarenta mil pessoas, como era de temer. Para matar a ridicularia de quarenta mil pessoas não era necessário tanto sonho. Não, felizmente, não se tratava de um desapontamento. Nem quarenta, nem sessenta, nem setenta mil mortos. Isto é: todos os seres vivos liquidados!
E a humanidade dobrou o jornal aliviada.

Miguel Torga, Diário
"

Um crime contra a Humanidade, nunca julgado.

E que tal uma visita guiada ao sítio da cidade: www.city.hiroshima.jp

sábado, agosto 07, 2004

Com A Dieta Na Carteira Durante 50 Anos!



O doente já vai nos 97 anos e como me disse segue religiosamente a sua dieta que um meu colega há 50 anos lhe ofereceu com a perigosa e imperativa ordem médica: "Até ao fim da sua vida!"

E ele assim fez. Até ao fim da sua vida, que se espera ainda longa. Talvez mais um futuro centenário!

Objectos Em Extinção. E A Promessa do Abrupto?

O Abrupto em 29/07/2003, postava:
"O nosso médico “para comemorar a recente façanha do Bloco de Esquerda que conseguiu institucionalizar a magia e o esoterismo (tão na moda!)” envia “uma lista de pequenos objectos médicos já extintos ou em vias de extinção”:
  • "1) três tipos de ventosas de vidro (extintas);
  • 2) uma caixa de alumínio porta agulhas (extinta);
  • 3) uma seringa de vidro (extinta);
  • 4) um termómetro de mercúrio (em vias de extinção) e o respectivo utensílio para repor abaixo de 37º (extinto);
  • 5) uma "garrafa" de soro em vidro de soro fisiológico (substituído por plástico);
  • 6) uma ampola de clorofórmio e o seu invólucro em papelão (em desuso);
  • 7) frascos de vidro para transporte de urina e sangue com rolhas de cortiça (substituído por plástico e tubos de ensaio especiais);
  • 8) caixa de alumínio com uma ligadura engessada (invólucro extinto)”

(Manda também uma foto que acompanhará estes objectos no blogue que em Setembro se fará só para esta série.)"

Como o blogue não apareceu em Setembro... eis a foto!

sexta-feira, agosto 06, 2004

When Machines Were Works Of Art



Tive um pai. Melhor, um Pai.Também foi um doente terminal...

Tive um pai. Melhor, um Pai.

Também foi um doente terminal, consciente até à hora da morte.
Foi há muito, talvez uma década. Mas para mim foi ontem!

Foi doente terminal de uma doença maligna, já tinha sobrevivido a uma. À segunda ainda sobreviveu alguns anos.

Quando falo em demissão dos IPOs e das oncologias dos hospitais distritais e centrais, sei do que falo.

Dez anos depois, está tudo na mesma? Não. Há uma lei...

Era um dia qualquer.
A minha Mãe percorre os 300 quilómetros que nos separavam com um telefonema: “O Pai foi à consulta, eu fui com ele e o médico disse que ele estava muito mal, que não valia a pena lá voltar. Para o levar para casa e esperar.”

Foram estes os cuidados paliativos que o Estado ofereceu ao meu Pai, que faleceu oito longos dias depois.

Mas o meu Pai tinha filhos que o adoravam e cada um parou uma semana do seu valioso trabalho, este que vos escreve também, e “paleamos” conjuntamente com a nossa mãe, excluindo os netos, de tão cruel despedida.
O seu médico de família trouxe o conforto e as prescrições necessárias para tão doloroso momento.
Nessa semana não fui médico, fui filho que se despediu do pai e não esqueço os sucessivos apelos por ele lançados nos últimos dias: “Quero um médico, chamem um médico!”.

Mas o médico não estava lá, estava o filho.
E o médico de família, incansável lá aparecia para palear. O médico de família deve ser assim.

Não como infelizmente acontece nos nossos centros de saúde, onde são médicos de família das 8 às 13 ou das 14 às 18. A maior parte demite-se tanto da sua função, como os nossos hospitais se demitem da paleação.

Mas tenho inteligência suficiente para não os criticar. Não são eles que se demitem. Foi o sistema português que quis que eles se demitissem e passados tantos anos, que podem eles fazer, senão cumprir horários? Foi para isso que foram educados. Com os médicos hospitalares passa-se o mesmo, cumprem horários.

Faleceu ao oitavo dia depois do oncologista assistente o mandar para casa: “Evita de cá voltar!”, disse à sua esposa de uma vida.

Eu chorei e choro.

Não há cuidados paliativos em Portugal! Não há a cultura de palear em Portugal, não por culpa dos médicos, mas por culpa do sistema.

quarta-feira, agosto 04, 2004

"Frasquinhos Com Pedacinhos De Cancro"

O blogame mucho explicou-me com duas variantes: a lolita, na variante intelectual e o amigo besugo na variante clínica (ao que alguém me segredou, talvez tenhamos mais em comum do que aquilo que julgamos).

À lolita (sinceramente não sei se a poderei considerar amiga, pois continua a perpassar nos seus escritos aquele sentimento primário anti-médico) lembro que, as explicações explicadas por maus explicadores (como eu) ainda são menos explicáveis, quando os explicandos perante uma explicação mal explicada pretendem explicar o inexplicável e originam mal entendidos.

Lolita: eu, como médico, gosto que um Linguista Explique Figuras de Estilo ao Médico bloguista para que este possa explicar ao besugo e à lolita, que quando conta histórias da sua prática clínica extra-hospitalar, usa por vezes expressões populares, com mais realismo para quem as lê.

Ao amigo besugo agradeço a sua lição de "medicina oncológica", mas provavelmente leu a minha mensagem em diagonal e não compreendeu que aquela história tinha horas de vida.

É como se eu fosse amanhã fazer uma endoscopia por uma dispepsia supostamente funcional e saísse de lá com "um cancro que já nem em frasquinhos coubesse". E como sabe isso pode acontecer: as doenças às vezes são silenciosas!

O amigo besugo usou uma ANTIPARÁSTASE para responder à minha EXPLEÇÃO. (Não sei se serão estas as figuras de estilo aplicáveis ... mas são palavras bonitas)

Eu continuo anónimo e responsável; os médicos envelhecerão; 50% dos doentes oncológicos curarão, os outros 50% terminarão doentes e irão em vão.

Os cuidados primários de saúde continuarão primitivos como disse, quando deveriam ser os primeiros cuidados; os cuidados hospitalares, independentemente dos novos sufixos, lá continuarão como sempre foram: secundários, longe do cidadão, distantes, amargos, impessoais, com médicos a subir e a descer escadas e elevadores, quando deveriam ser secundários aos primeiros, rápidos e próximos; os cuidados terciários, mais especializados lá continuarão, e ...

Os cuidados paliativos lá permanecerão na Lei (capítulo VIII) à espera da sua aplicação! Aqui estaremos todos de acordo.

Mas lá estarei no dia 24 de Agosto a dar-vos os parabéns pelo futuro aniversário e pela frase de apresentação da lolita de então: "Mas eu escrevo lo que me da na gana e não o que gostam de ouvir. Espero poder provar isso daqui em diante."

E provou mesmo, por isso gosto de vocês, não gosto de betinhos, nem do stablishment, nem da silly season ... nem das tias silly. Nem do conformismo.

Viva a anarquizante blogosfera e esta anárquica posta!

P.S. Recebo um mail de uma pessoa amiga a perguntar-me: "Mas quem é a lolita?" Respondo na volta: "Não sei! É uma personagem da blogosfera! Assim como o médico explica é para muitos, menos para ti!"

terça-feira, agosto 03, 2004

A Lolita Explicou-se. O Que Me Aconteceu Hoje, Explica-me. A Madalena S Explicou Aos Dois!

A Lolita explicou-se, embora num tom pouco simpático (“O senhor parece não ter gostado do que eu escrevi aqui. Vejamos se eu me consigo explicar.”).
Não é novidade para ninguém que, a aplicação do termo 'o senhor', em certas ocasiões, tem um significado insultuoso.

Mas é um osso do meu ofício.

Eu sei que para muitos intelectuais, particularmente de algumas áreas do conhecimento, todos os médicos são maus, todos os médicos são exploradores, ou dos sentimentos ou das carteiras, embora a medicina privada, seja tão legítima como a convencionada ou a pública.

O que é importante é que se respeitem as regras éticas.
Mas a lolita não conseguiu compreender o que eu queria dizer interrogativamente com a frase entre aspas, aspas que só por si modificam o sentido de “perder tempo”.
Mas, enfim, o que a lolita não compreendeu, compreenderam os leitores que me escreveram.

O que me aconteceu hoje, talvez faça a lolita compreender. A querida lolita, pois eu sou assim: não me aborreço com ninguém...

À minha frente, um pai doente, sem saber e uma filha. Ele de 50 anos e ela de 25. Ela intelectual, ele trabalhador incansável na sua profissão. Até hoje!
Trazem um envelope com o resultado de um exame requisitado por mim há 5 dias. Não os vejo muito apreensivos.
Mas pelo volume do envelope, fico eu apreensivo. Vejo que traz material para análise histológica.
Há 5 dias, a filha convenceu o pai a vir ao médico, por ligeiríssimas “dores abdominais incaracterísticas” e um emagrecimento inexplicado de 5 quilos.

Feita a história clínica e a observação, decido (a intuição, a muita prática, o “olho clínico”) iniciar o estudo do doente pelo estômago. Solicito-lhe uma endoscopia e digo à filha que era bom que o exame fosse feito com uma certa urgência.

Hoje, perguntei como faço sempre, o que lhe disse o médico que fez o exame, responde-me que o pai entrou sozinho. Mas o pai apenas sabe dizer que lhe deram o envelope para mostrar ao médico. Só sabe que está bem e que tudo não passa de uma preocupação da filha.

Abro o envelope e a primeira suspeita confirma-se: lesões extensas compatíveis com cancro do estômago. Lá estavam os frasquinhos com “os fragmentos do cancro” para confirmação anatomo-patológica.

Que fazer?
Dizer de chofre aos dois: "Olhe tem um cancro no estômago, se calhar já muito avançado. Olhe o máximo que lhe dou são 8 a 12 meses de vida. Para quem defende que se deve dizer TUDO, era isto que EU deveria ter FEITO.

Mas não pode ser assim.
Fui preparando os dois: "Provavelmente vai ter que ser operado, não podemos perder tempo, tem que fazer outros exames. Temos que aguardar os resultados da biópsia", e outras frases que façam pensar!

Arranjei uma desculpa, e pedi à filha para uns dias depois vir falar comigo. Ela compreendeu que a situação não era nada favorável.
Depois se entendesse falar com o pai ou que fosse eu a falar, trataríamos do assunto.
Na despedida, o pai ainda me pergunta, na sua inocência: "E não há dieta? Posso comer de tudo?"
Respondi-lhe: "Use e abuse de tudo até à operação, depois vê-se!"

Mas porquê esta história, sobre o “perder tempo” em sentido figurado, que a lolita não compreendeu?

Imaginemos que o doente tem que marcar a consulta de cirurgia rapidamente, para se caracterizar o seu caso no IPO, para se estadiar a sua neoplasia e para se decidir em reunião de serviço o tratamento a seguir. Imaginemos que essa consulta de cirurgia está cheia de doentes inoperáveis, já estudados, ou já operados e com evolução negativa e que a sua consulta de cirurgia é marcada três ou seis meses depois, porque entretanto está ocupada com casos já decididos?

Isto é apenas um exemplo, que até em termos médicos nem se aplica muito à situação, mas é para que a lolita compreenda o que eu quis dizer com “perder tempo”.
Quem perde tempo é o doente que está à espera da cirurgia, não são os doentes terminais .... esses por cada minuto que passa, ganham tempo!

Mas a Madalena S na história anterior, deixou-nos uma ideia do que são os cuidados paliativos, tratar e preparar o doente e a família...

segunda-feira, agosto 02, 2004

Acerca dos Cuidados Paliativos, Uma Experiência Pessoal

E depois de lerem pensem se em Portugal há cuidados paliativos!


"Olá Dr,
Ao ler o seu último post apeteceu-me contar-lhe o que vi nos Cuidados Paliativos de um Hospital em xxx, Toronto, Canadá: Era o ano de 2001 e fui assistir ao internamento do meu sogro (hoje, ex-sogro), com cancer nos ossos e 80 anos de idade, primeiro numa enfermaria com 2 pessoas , onde diariamente ele e nós familiares recebiamos a visita 2 ou 3 vezes por semana, de uma assistente social que nos ia preparando para "o fim"...O Hospital foi o que de melhor vi na minha vida (já vivi nos EUA tb, Brasil e Índia), médicos e enfermeiros vestidos com uns simples fatos de treino em vez das habituais fardas brancas, toda a gente tinha uma cor diferente, por andar e por especialidade. Nós estavamos no piso do cancer, claro, o quarto tinha uma pequena kitchenet com desinfectantes para as mãos e tb uma casa de banho privativa. Foi a primeira vez que vi, refrescarem a boca dos doentes com uma espécie de xupa-xupa de esponja colorida, com sabor a morango...


No último dia antes dele morrer, ele é levado a outro andar, dos Serviços Paliativos mesmo, onde o quarto é totalmente privado. O quadro em frente à cama é daquelas pinturas que ao olharmos já sabemos, que estamos ali para ver alguém "partir"... era uma paisagem de mar, com uma cadeira de praia vazia virada pró por do sol, e depois dentro do quadro, a imagem vai-se repetindo, mais pequena, uma dentro da outra como um corredor para o além...


Fiquei impressionada, mas logo perguntaram se queriamos ali alguém, tipo um padre ou uma assistente social pra ficar conosco. Dissemos que não e ficou a enfermeira com o estetoscópio para ouvir quando realmente o coração parava e foi assim, na calma, já sem dores que o vimos adormecer pra sempre. Ali é último contacto com o familiar morto, pois como foi cremado, e não temos religião, foi para uma Casa Mortuária, Congelador, até a Primavera permitir a cremação (a terra dos cemitérios fica congelada e não permitem enterros no Inverno). Não há Igreja, nem caixão visível, nem choros histéricos como assistimos aqui. Pode ser mais "frio", mas para quem parte e principalmente para quem fica, esses tais cuidados paliativos são excepcionais... Pra não falar dos voluntários vestidos de Pai Natal, com 6 cães pelos corredores, visitando cada paciente, para os velhinhos fazerem festinhas, quando já não reagem nem às visitas dos familiares!
Ali não podemos escolher, nem Médico nem Hospital, mas o Estado oferece a todos , de qualquer extracto social a mesma qualidade de prestação de serviços. Se Medicina Socializante é aquilo... então, é tb de 1ª classe.
Obrigada por ter lido,
Madalena S
"

domingo, agosto 01, 2004

É Feio Transcrever E Esquecer O Contexto

Não é ético no meio bloguístico fazer transcrições fora do contexto total do bilhete que se publicou.

E a lolita, do blog blogame mucho, um blog de referência, no seu post "O princípio da escassez." deturpa o conteúdo de um bilhete de resposta a uma leitora:

1) transforma uma interrogação académica, filosófica, organizativa, científica e médica em afirmação programática deste blog. Isso não se faz!

2) direcciona para este blog frases como "a densidade própria dos pensamentos lineares, do humanismo caótico, do altruísmo inato e involuntário" atribuídas a outros factos, mas que levam indirectamente o leitor a atribuí-las ao autor deste blog.

3) deturpa o pensamento do autor com adjectivos e frases como "Quando se confundem princípios com contingências o essencial torna-se, fatalmente, acessório; e com o que é acessório, de facto, não se perde tempo. É tão lógico concluir que, quando alguém está doente, tanto quer ser curado como não quer sofrer - as duas vertentes, repare-se, não totalmente sobrepostas desse estado - como é assustadoramente fácil distorcer esta lógica, de forma aparentemente didáctica e em nome da escassez de recursos.".

4) Omite as conclusões finais e altera em completo a ideia-resposta à leitora que tem linhas base bem definidas:

  • os IPOs demitem-se dos cuidados paliativos;
  • em Portugal não há cuidados paliativos organizados, vivendo-se muito da carolice.
  • os cuidados paliativos são necessários, não só para diminuir o sofrimento da doença e do tratamento (dores insuportáveis, vómitos incoercíveis, tonturas e vertigens, edemas, amputações, dificuldades na alimentação, depressões, problemas sociais e familiares, etc) mas também para preparar o doente para a despedida da vida.
  • os cuidados paliativos tanto podem necessitar apenas de apoio psicológico e administração de morfina, como intervenções cirúrgicas e colocação de próteses.
  • o autor deste blog tem casos clínicos seus, de familiares e não só, que demonstram o que atrás disse.

5) E uma interrogação bem específica: quem deve prestar os cuidados paliativos em Portugal? Atribuí-los a instituições lucrativas como se prevê na Lei? Ou integrá-los nos Cuidados Primários de Saúde, na comunidade e na família a que o doente pertence? Mas estarão os nossos Centros de Saúde preparados para isso? Quantos Centros de Saúde têm internamento? Quantos têm os seus internamentos desactivados? E os médicos de família estarão preparados (e motivados!) para os cuidados paliativos? Os cuidados paliativos implicam uma resposta de 24 sobre 24 horas, as complicações da doença e as interrogações dos doentes e familiares sugem a qualquer hora. A disponibilidade tem que ser permanente. Asistir passivamente à morte de alguém é uma tragédia e provoca uma revolta dentro de nós.

6) Talvez falte essa experiência à lolita.

7) E portanto não esperava isto do referido blog que muito prezo: é feio transcrever e esquecer o contexto!