Não Sei Se Conseguirei Explicar ... (Actualizado)
Pois trata-se de um negócio das arábias, este negócio entre o Sr Dr João Cordeiro e o Ministério da Saúde.
Demonstra que o País, afinal não está de tanga!
Não sei os pormenores. Mas deverá ser assim: o Ministério da Saúde transferirá 120.000 contos mensalmente (?) para os cofres da ANF. A ANF decide as farmácias com as quais fará os seus acordos.
Até aqui, nada a opor. As farmácias são empresas e fazem os negócios que entenderem e com quem entenderem.
Mas ficam-me algumas dúvidas:
1) O que são actos farmacêuticos? Estão legislados? Há alguma referência nas faculdades de farmácia sobre os actos farmacêuticos?
2) O que é para este contrato "diabetes não controlada"? Se até para o médico por vezes é difícil chegar a conclusões numa única consulta, sem recorrer a uma análise que se chama hemoglobina glicosilada, como concluirão os farmacêuticos rapidamente que a diabetes está descontrolada?
3) Será só pela picadinha no dedo que significa glicémia capilar? E quem paga as tiras (testes colorimétricos de glicose no sangue) para essa picadinha feita na farmácia? O Estado já subsidia as tiras de diagnóstico, os laboratórios já oferecem as máquinas a quem compre as suas tiras. Os médicos já há muito tempo dizem que as picadinhas no dedo, tem um alcance muito limitado para a maioria dos diabéticos, os insulino-dependentes (diabetes 1) ou os portadores de diabetes 2, mas insulino-tratados, serão os únicos que precisarão, REGRA GERAL, de um controle apertado da sua glicémia para efeitos terapêuticos.
4) E porque pagarão os doentes diabéticos cerca de 500 escudos nas farmácias, quando as suas consultas nos centros de saúde e hospitais são gratuítas?
5) - E continuarão os doentes diabéticos com inúmeras dificuldades no acesso a consultas de oftalmologia para despiste e controle da retinopatia diabética, principal causa de cegueira.
- E continuarão os doentes diabéticos com inúmeras dificuldades no acesso a consultas hospitalares para tratamento de diabetes de dificil controle nos centros de saúde.
- E continuarão os doentes diabéticos com inúmeras dificuldades no acesso a consultas com nutricionistas hospitalares (único local oficial onde as há) para alteração dos hábitos alimentares.
- E continuarão os diabéticos a ficar cegos por que não podem pagar consultas privadas de oftalmologia, e continuarão os diabéticos a cometer erros alimentares porque não podem pagar consultas com nutricionistas privados, e continuarão a ser amputados e a ter enfartes e AVCs, e etc.
- E coitados dos médicos de família nos seus centros de saúde que agora terão mais um canal para marcação de consultas: o doente sai da consulta com um rol de análises para três ou seis meses, as análises anteriores até estavam óptimas, mas como está com fome vai almoçar, depois lembra-se de ir fazer a picadinha no dedo à farmácia do bairro, onde até está uma técnico que ele conhece, a picadinha mostra 147 mg/dl de glicémia capilar, o técnico ou farmacêutico olha para os seus papéis e diz: está com um valor superior ao normal, vá já ao seu médico (entupir ainda mais as consultas) e assim os centros de saúde continurão a funcionar mal.
6) Outras perguntas se poderiam colocar: há um Programa de Controlo de Diabetes, oficial, onde se inserem as farmácias neste programa? Ficará a ANF responsável pela compra, pela distribuição, pela escolha das farmácias e depois ... quem pagará serão todos os portugueses.
7) Finalmente: será que o Ministério da Saúde apenas ouviu o Sr Dr João Cordeiro? Ou ouviu as sociedades científicas de diabetes? E há várias em Portugal:
# Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal;
# Sociedade Portuguesa de Diabetologia;
# Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo;
# Sociedade Portuguesa de Cardiologia;
# Grupo de Estudos da Diabetes da APMCG;
# DGS - circular normativa sobre actualização dos critérios de diagnóstico;
# DGS - circular normativa sobre diagnóstico sistemático da nefropatia diabética
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