segunda-feira, setembro 29, 2003

Uma História de Hoje (Profissão: Escrever), Antes de Um Período de Reflexão

Chegar a casa, a pensar em descansar, responder a alguns e-mails, entre os quais ao Sr Hugo Almeida, dando a mão à palmatória, e depois receber o mail que no post anterior divulgo do mesmo senhor, deprimiu-me.
Conto a história (já sem convicção) e vou parar para reflectir!

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Foi uma das últimas doentes de Domingo, entrou com a mão direita no ar, já besuntada com várias pomadas, reluzindo dentro do gabinete. Indiferenciada. Com ar "de poucochinho", como diz o povo. Oligofrenia cultural, dizem alguns psiquiatras.

Perguntei: então o que faz, qual a sua profissão? Escrever, respondeu ela.

Olho para a ficha e não vejo a profissão.

- Então em que é que trabalha?
- Estou a escrever.
- A escrever? Mas a escrever o quê?
- A escrever nisso dos cursos.
- Mas que cursos. Está a estudar?
- Não. Estou a escrever, nisso dos cursos.
- Mas que curso está a tirar?
- Não sei, estou nisso dos cursos. Estou a escrever.

Tinha que acreditar no que dizia, pois os seus dedos da mão direita, usados habitualmente na escrita, estavam com várias e enormes bolhas.
Provavelmente escreveu demais ou era alérgica a “escrever nisso dos cursos”.
Não foi uma consulta de medicina legal, mas não podia excluir que as bolhas fossem de origem traumática.

Tenho que dar razão ao ministro Bagão Félix.

Cursos de formação profissional, onde os formandos nem sabem o que estão a fazer, apenas sabem que recebem um subsídio mensal.
Formadores (há-os óptimos, interessados em ensinar, com métodos pedagógicos) sem qualquer qualificação e que, pelos vistos, ditam, ditam, ditam, ditam e os coitados dos formandos escrevem, escrevem, escrevem, escrevem...


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