sábado, novembro 15, 2003

A Bayer e os Outros

No Jornal de Notícias de 14/11/03, sobre o assédio aos médicos:

"Duas categorias
O relatório também detectou existir uma relação entre os médicos patrocinados e os níves de prescrição de produtos da Bayer. Os próprios delegados de informação médica recolhiam esses níveis, "nas conversas que travavam com os médicos, na observação que faziam dos seus doentes, no receituário do utente, a que tinham acesso, através de informação informal na farmácia da zona e pela análise estatística fornecida pelas empresas especializadas em vendas de medicamentos".
Os clínicos eram arrumados na categoria A ou B. Os primeiros seriam aqueles que consultavam mais de 15 ou 20 doentes por dia; os segundos ocupavam cargos de chefia. A partir daí, os delegados seleccionavam os médicos-alvo com base em três critérios: prescritores habituais que convém fidelizar; "opinion makers" que, não prescrevendo, têm muita influência junto dos colegas; forte possibilidade de virem a tornar-se prescritores. A IGS constatou que, "salvo raras excepções, só estes tipos de médicos eram patrocinados". Trata-se de médicos que prescreviam em "quantidades comercialmente significativas" e "muitos deles, não receitavam qualquer produto similar" (a investigação constatou que alguns dos medicamentos promovidos desta forma tinham similares no mercado, mais baratos).
As verbas disponibilizadas pela Bayer para essas "acções de promoção" eram "avultadas" (5 a 10% do volume total anual de vendas), mas não elásticas. Por isso, dos cerca de dez mil médicos com ficheiro na Bayer, apenas trezentos ou quatrocentos eram patrocinados anualmente, constatando-se uma grande "selecção"
".

Que pena eu não fazer parte desses trezentos ou quatrocentos!

O negócio do medicamento é um negócio de milhões para todos os intervenentes.
Sejam medicamentos químicos, homeopáticos, ervas, mezinhas, agulhas, benzedouras, etc, desde que se prometa a cura, com a estratégia da tensão (mais uma vez) em que se vive todos nos queremos libertar da doença e do mal.

Desses milhões apenas cabem migalhas aos médicos. E infelizmente há alguns que se deixam vender por essas migalhas.
Qualquer economista sabe que um produto tem um budget para promoção. Nesse budget promocional estão incluídas todas as despesas relacionadas, desde os ordenados dos DIM, as despesas de tipografia, as promoções nas farmácias e os assédios aos médicos.

E como o mercado é de milhões, todos os laboratórios investem, sejam multinacionais, nacionais, de marca ou de genéricos. E a melhor forma de investir é em médicos que prescrevam. Isso é óbvio.

Dentro da legalidade já participei em Congressos subsidiados pela indústria farmacêutica. Mas foram mais os que rejeitei. Viajar, comer, dormir à borla é muito bom. Mas há limites morais a preservar.

P.S.
Num dos últimos programas Prós e Contras, da RTP1, sobre Portugal, foi dito por um dos representantes governamentais que se tinham convidado jornalistas e directores de jornais nacionais e internacionais a passarem uns dias em Portugal para promover o país. O facto de terem aceite tais viagens, torna-os corruptos? Calro que não.

Sem comentários: