sexta-feira, novembro 14, 2003

Estratégia da Tensão II

Perguntam-me o que é a Estratégia da Tensão, termo que apliquei uns bilhetes atrás.

Fui ao Google e pesquisei Estratégia da Tensão e Tension Strategy.

Esperava não encontrar nada e ter que dissertar aqui sobre o assunto. Mas não. Sendo assim, caso o meu amigo ainda se mostre interessado no conceito, encontrará referências sobre várias estratégias da tensão, aplicadas a vários domínios, desde a política, a guerra, o terrorismo, a física, etc.

Apliquei o termo para justificar a guerrilha que as nossas televisões fazem na exposição da doença, para manterem os seus leitores arredados de outros assuntos bem mais interessantes.

Como exemplo: há dias comemorou-se o Dia da Prevenção do Cancro da Mama. Todas as tvs se interessaram pelo tema e fizeram várias notícias sobre o assunto. Invariavelmente todas foram à procura de mulheres mastectomizadas (a quem se retirou uma mama). A TVI conseguiu encontrar uma doente, com cerca de 30 anos mastectomizada bilateralmente. Caso raro, pela idade e pela situação, embora os médicos saibam que a mama restante está sempre em risco. As perguntas não foram sobre a prevenção, as perguntas foram tétricas, como já estamos habituados a este tipo de jornalismo.
Mas a estratégia de manter as pessoas em tensão permanente, comprovou-se no dia seguinte, pois várias mulheres jovens me solicitaram em vários locais a prescrição de uma mamografia de urgência, pois se aquela jovem ficou sem as duas mamas, também lhes poderia acontecer o mesmo.

Moral da história: a mensagem da prevenção, do rastreio, da auto-palpação, das mamografias periódicas de acordo com as guidelines em todas estas mulheres não passou! Passou foi o medo, a ansiedade, o medo de morrer.
Quando esta ansiedade se diluir, a prevenção volta a ficar esquecida, até nova reportagem.
E se descobrirem uma mulher com mamas supranumerárias (que também as há) e todas com cancro e multi-mastectomizada, as audiências subirão em flecha.

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