Estou Fulo Com A Catarina Gomes!
Numa entrevista da jornalista Catarina Gomes à farmacêutica Noémia Lopes, (PÚBLICO, Quarta-feira, 29 de Outubro de 2003) apreciei as resposta da farmacêutica e considero ausentes de rigor científico as perguntas da Catarina. Assim, subliminarmente se vão acusando os médicos daquilo que eles não fazem ou querem, mas, também assim se vai passando a mensagem negativa para os meios intelectuais.
A curta entrevista intitulada "O Leigo Já Não É Sujeito Passivo" sobre automedicação, em duas de três perguntas, apresenta afirmações sobre o que pensam os médicos, que reputo de falsas, demagógicas e deontologicanente (para os jornalistas) condenáveis.
Nós, médicos, estamos habituados a, em cada afirmação pública que se faça, utilizar uma referência escrita para justificar essa afirmação.
Desafio a senhora jornalista publicitar a referência escrita onde justifica que os médicos "condenam a automedicação" ou a "consideram indesejável"
Provavelmente a senhora Catarina não sabe o que é automedicação.
A automedicação como o nome indica, refere-se à auto-resolução de alguns problemas que afectam os doentes e que eles poderão tratá-los, recorrendo ou não a medidas farmacológicas.
A automedicação tem balizas, e isso é o que nós dizemos:
- uma simples diarreia, de um ou dois dias, pode ser resolvida só com hidratação, mas uma simples diarreia, ou que se repita ou cujas fezes sejam sanguinolentas, p.ex., pode necessitar do diagnóstico médico.
- uma simples febre, pode ser auto-resolvida com "esperoterapia", mas se, apesar de simples for acompanhada de fotofobia, petéquias ou outros sinais, terá que recorrer imediatamente ao médico.
A automedicação, deveria ser ensinada aos doentes pelo Estado ou pelo Serviço Nacional de Saúde, sem interesses económicos directos na questão. Agora resumir a automedicação, a medicamentos sem receita médica, é transformá-la na dependência directa do fârmaco, é medicalizá-la, é torná-la dispendiosa.
É fazer depender o doente das grandes multinacionais do medicamento, que já está pelo excesso de medicamentos de prescrição obrigatória por médicos, ao acrescentar ainda os medicamentos de venda livre.
Medicamentos esses que devem existir, mas com opção de escolha do doente, entre tomar ou não tomar.
Alguém acredita que ao balcão de uma farmácia, se receita água? Espera?
Vivemos numa sociedade hiper-medicalizada, por culpa dos médicos, aos quais agora se querem juntar os farmacêuticos!
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