terça-feira, novembro 18, 2003

A Notícia Tal e Qual

Público, Segunda-feira, 17 de Novembro de 2003
Por ALEXANDRA CAMPOS


"Consultas nos Hospitais para Parar de Fumar Têm Listas de Espera

A maior parte das consultas de desabituação tabágica a funcionar nos hospitais portugueses tem listas de espera. Há um hospital em Lisboa onde os candidatos a não fumadores têm de aguardar dois anos pela consulta (o Egas Moniz) e quem procura a atendimento no Santa Maria é imediatamente informado de que só há vaga no final de Abril. Para Paulo Vitória, o psicólogo que coordena a "Linha SOS Deixar de Fumar", isto é a prova de que em Portugal "o tabagismo ainda não é entendido como uma dependência".

"Ninguém liga nenhuma. Isto funciona à nossa custa", corrobora João Barreto, o psiquiatra responsável pela consulta de desabituação tabágica do Hospital de S. João, no Porto, onde a lista de espera se fica pelos dois, três meses. Com dois médicos e um psicólogo não é possível dar uma resposta mais rápida, até porque a consulta tabágica é apenas uma das muitas tarefas que preenchem o dia-a-dia destes profissionais.

Bem mais optimista, Pais Clemente, o otorrinolaringologista que preside ao Conselho de Prevenção do Tabagismo, interpreta com bonomia este fenómeno, considerando até que é um bom sinal - o de que há cada vez mais pessoas interessadas em deixar de fumar. "Em 1996, havia apenas seis consultas de desabituação tabágica, hoje são cerca de 90 (entre as que funcionam em instituições públicas e privadas) e a procura é grande."

"Deixar de fumar está na moda", remata, satisfeito com esta tendência, que parece ter-se acelerado com recente chegada dos novos rótulos com mensagens-choque sobre os malefícios do tabaco. (ver texto nestas páginas).

Quanto às respostas disponíveis nos serviços públicos, as lacunas estão bem diagnosticadas no Plano Nacional de Saúde, que admite sem reservas a insuficiência do investimento em consultas de desabituação tabágica. Estes serviços "não têm registado o desenvolvimento necessário" e "os poucos que existem não têm recebido os apoios adequados", refere o documento, realçando a necessidade de se investir na formação dos profissionais de saúde, sobretudo os médicos de família.

A verdade é que os médicos que dedicam algum do seu tempo a este problema fazem-no "numa base de carolice", lamenta Paulo Vitória, e o aparecimento e manutenção das consultas dependem quase sempre do seu empenho nesta causa. Para dar uma ideia das limitações das respostas organizadas em Portugal Ajudar a deixar de fumar começa mesmo a ser visto como um negócio com grandes potencialidades em Portugal, a crer na multiplicidade de métodos e de tratamentos que têm surgido na iniciativa privadapara o combate ao tabagismo, Paulo Vitória faz notar que a "Linha SOS Deixar de Fumar" (808208888, atendimento entre as 13h00 e as 21h00 dos dias úteis), a funcionar desde Abril de 2002, dispõe apenas de dois postos telefónicos, quando em Inglaterra uma linha similar tem um "call center" com 120 postos.

12 mil mortes por ano
Com os melhores índices de prevalência de tabagismo na população com mais de 15 anos dos países da União Europeia, Portugal pode considerar-se numa posição confortável, mas a verdade é que o vício do tabaco está a aumentar gradual e sustentadamente entre as mulheres e os jovens, ao contrário do que acontece com os homens.

E, mesmo que as últimas estimativas apontem para um decréscimo na prevalência tabágica - 16,6 por cento da população com idade igual ou superior a 15 anos, de acordo com um inquérito recentemente concluído pelo serviço de Otorrinolaringologia do Hospital de S. João -, e apesar de as vendas de cigarros terem invertido a tendência crescente desde 2001 (ano que se venderam menos 0,2 por cento de embalagens), .

Mesmo assim, Pais Clemente defende que a luta contra o tabaco se deve basear numa "cultura de os efeitos do tabaco na saúde dos fumadores continuam a ser devastadores. Basta ver que as doenças associadas ao cigarros provocam cerca de 12 mil mortes por ano em Portugal - oito vezes mais vítimas mortais do que a sinistralidade rodoviáriainformação", mais do que em campanhas "radicais e fundamentalistas" contra os fumadores, que poderiam surtir " um efeito contrário". O otorrrinolaringologista sabe do que fala: está comprovado que as mulheres se assustam mais com a mensagem de que fumar provoca rugas e que os homens só se alarmam a sério com o alerta de que o tabaco causa impotência. "Ninguém está preocupado com o cancro ou com as doenças cardiovasculares", lamenta.
"

Em 10 de Agosto de 1982 deixei de fumar. Decidi. Sem agulhas, medicamentos, patetices ou palermices.

Apenas decisão minha! Por opção.

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